segunda-feira, 17 de junho de 2013

Situação Didática de Leitura



Melancia e Coco Verde
                                                 






Era um guri muito pobre. Morava fora da cidade, num casebre caindo aos pedaços. Mesmo assim vivia com um sorriso bonito nos lábios. Tudo por causa de uma colega de escola.
Foi assim. No começo, os dois só se olharam. Depois puxaram assunto, sorriram, conversaram e ficaram amigos. Não demorou muito, já estavam namorando firme.
O pai da guria era cheio de dinheiro, dono da maior estância da região. O tal estancieiro tinha poder, terras, gado e muitas plantações. Tinha também um sonho: ver sua filha única casada com um primo. Como o rapaz era fazendeiro, o pai da moça fazia os cálculos. Aquele casamento faria seu poder ficar maior ainda.
O tempo passou. O menino pobre cresceu e virou soldado. Continuou namorando a filha do estancieiro e gostando cada vez mais dela.
— Tu não devias namorar esse soldado — dizia o pai da moça. — É um chinelão pé-rapado. Não tem nem onde cair morto. Não tem um pau pra matar um gato!
O pai falava, falava e falava, mas, enquanto isso, o amor da moça crescia, crescia e crescia cada vez mais forte e verdadeiro.
Quando foi um dia, o moço foi convocado para lutar numa guerra.
A namorada chorou cheia de susto:
— Fica! — implorou ela.
O estancieiro sorriu cheio de raiva:
— Tomara que morra!
Antes de viajar, o soldado chamou a moça.
Garantiu que ia voltar e disse mais. Pediu a ela que prestasse atenção. Contou que tinha inventado dois apelidos. Era um segredo. Ela passaria a ser Melancia. Ela seria Coco Verde.
— Só nós dois sabemos — explicou ele. — É feito uma senha. No caso de qualquer recado, carta, bilhete ou aviso urgente, a gente usa os apelidos. Assim, nem teu pai nem ninguém vai saber que é coisa nossa.
Tudo combinado, o moço beijou a moça e partiu a galope.
Mas o tempo é cavalo que ninguém segura nem monta.
O estancieiro inventou uma história. Mentiu. Disse que tinha recebido notícia fresca da guerra. O tal moço, o tal soldado pobretão, o namorado da filha, infelizmente tinha morrido em combate.
No começo, a moça não conseguia acreditar. Depois, ficou quase doida de desespero. O estancieiro abraçou a filha e, fingindo, aconselhou:
— A vida é assim mesmo. É duro, mas não faz mal. O jeito agora é tu te casares com teu primo.
E nem esperou resposta. Já foi dando ordem para chamar o padre, preparar a papelada e avisar a parentalha. Mandou também preparar a doçaria e colocar os frangos, porcos, ovelhas bezerros na engorda.
— Vai ser a maior churrascada que já se viu!
Acontece que a notícia às vezes anda mais depressa que pensamento.
O moço soldado tinha amigo. Um índio.
Assim que soube do casamento, o índio pegou o cavalo e partiu para a guerra. Queria que o amigo soubesse daquele matrimônio inesperado.
Encontro o soldado acampado à beira de um rio.
Ao saber do acontecido, o jovem ficou revoltado. Gritou:
— Largo essa guerra no meio! Quero saber se a moça mudou de ideia ou se é coisa do pai dela!
Mas o destino é cheio de truques.
Um cavaleiro apareceu galopando. Trazia ordem importante. Parte da tropa havia caído numa emboscada. O grupo estava cercado pelo inimigo. Segundo o recém-chegado, era preciso ajudar senão muita gente ia morrer.
O soldado que namorava a filha do estancieiro ficou sem saber o que fazer. Lutar para ganhar a guerra ou lutar para não perder seu amor?
— São meus companheiros — explicou ele ao amigo. — Preciso ficar mais um pouco!
Mas agarrou o índio pelo ombro. Pediu a ele que montasse e voltasse para a estância. Que viajasse dia e noite sem descanso. Que, por favor, desse um jeito de chegar antes do casamento.
— Amigo, é preciso que tu procures a filha do estancieiro!
E revelou o segredo dos apelidos. Pediu ao índio que chegasse perto da moça e, em voz alta, falasse em Melancia e Coco Verde. Explicou que era uma senha. Que ele desse um jeito de contar a ela que seu namorado ainda estava vivo e voltaria assim que pudesse.
Os dois amigos se abraçaram. O índio saltou no cavalo e partiu em disparada. Dizem que cavalgou sem parar três dias e três noites. Chegou no quarto dia de manhã, dia da festa de casamento.
Encontrou a estância enfeitada, convidados circulando, fogos pipocando, a cachorrada latindo, gaita tocando alto e cheiro bom de carne assando.
Uma reunião de família acontecia na sala. Estavam lá a noiva e o noivo, o estancieiro e sua mulher, o padre, parentes e amigos, todos conversando e tomando chimarrão.
O índio entrou de mansinho e pediu a palavra. Puxou uma viola e cantou:

Essa vida é uma guerra
É melhor tomar cuidado,
Melancia, Coco Verde
Tá mandando o seu recado!

Todos aplaudiram os versos do índio.
A noiva franziu a testa.
O índio continuou:

Para ter felicidade
É preciso ter coragem,
Melancia, Coco Verde
Volta logo da viagem!

Ninguém entendia direito os versos do índio. O estancieiro coçou o queixo. A noiva ficou pensando. Enquanto isso, todo mundo aplaudiu, pois o amigo do soldado cantava bem. E ele foi adiante:

Essa vida é uma beleza
Quem duvida se enganou
Coco Verde vem de longe
Pra buscar o seu amor!

Foi quando a noiva compreendeu o recado e arregalou os olhos. Depois soltou um grito e caiu desfalecida no chão da sala.
O susto foi geral. A festa parou no meio. Mandaram chamar um médico. O homem fez o que pôde, mas nada de descobrir um jeito de fazer a moça voltar a si. É que foi desmaio fingido.
No fim daquela mesma tarde, o soldado que namorava a filha do estancieiro voltou da guerra. Era o remédio que a moça mais precisava. Ao escutar a voz do amado, a moça curou na hora, pulou da cama e chamou todo mundo. Agora estava cheia de saúde. E furiosa. Acusou o pai de mentiroso. Contou que a fizera pensar que o namorado tinha morrido na guerra. Pediu desculpas ao primo e garantiu:
— Não tem jeito. É do soldado que eu gosto. É ele que eu quero. É só com ele que eu caso!
Depois, abraçou e beijou o namorado na frente do pai, da mãe, do noivo, de Deus e todo mundo.
Como a festa estava armada, tinha padre, tinha convidado, tinha chimarrão, carne, vinho e tudo, o casamento foi realizado.
Dizem que Melancia e Coco Verde foram felizes de verdade.


AZEVEDO, Ricardo. Cultura da Terra. São Paulo: Moderna, 2008.







Capacidades de leitura privilegiadas:



Ativação de conhecimento de mundo – Antecipação e predição – Localização e ou cópia de



informação – Comparação de Informação – Produção de inferências Globais – Recuperação do



contexto de produção – Valores éticos e políticos.



Formas de avaliação e instrumentos de avaliação:



A avaliação será contínua,  por meio da leitura e  da representação gráfica e corporal de



cada texto lido.













DESCRIÇÃO DAS AÇÕES:



- Antecipação e predição; ativação do conhecimento de mundo.



Antes de apresentar o texto Melancia e Coco Verde escrever o título na lousa e perguntar:



1) O que este título sugere a vocês? Do que vocês se lembram?



Escrever na lousa algumas respostas para serem comentadas após a leitura.



2) Já conhecem esse autor, Ricardo Azevedo?



Expor a biografia do autor e fazer um comentário breve sobre sua obra, mostrando outros



títulos já publicados e os prêmios recebidos. Salientar que Ricardo Azevedo é escritor,



ilustrador e que também é pesquisador.



Depois, apresentem Cultura da terra, dizendo que é um livro dividido por regiões do país.



Cada parte do livro contém histórias, receitas etc etc, para representar as regiões de onde



as informações foram coletadas. Em suas viagens, Ricardo Azevedo conversa com as



pessoas e registra sua cultua, publicando em livros.



Professor, nesse momento você poderá levar os alunos à Sala de Leitura para conhecer



outras obras do autor ou à Sala de Informática para pesquisar a sua biografia. O site oficial do



autor é: www.ricardoazevedo.com.br.



Leitura do texto, primeiramente analisando a imagem, seguida da leitura feita em voz alta



pelo professor.



Para ler as imagens e fazer predições sobre o que pode conter na história, tais questões



podem ser feitas:



a) O que vocês veem nesta primeira imagem?



b) O que pode narrar uma história que tem um homem como este e uma mulher? Por quê?



c) Onde pode se passar esta história? Justifique.



d) Como é o nome desta técnica de ilustrar? (Professor, lembre-se de que se trata da



xilogravura, muito utilizada no Nordeste para ilustrar cordéis. Ricardo Azevedo se apropria desses



conhecimentos para fazer suas ilustrações, uma vez que resgata a cultua popular em seus



Após as  discussões sobre as sugestões dadas pelos alunos na lousa,  podemos fazer  a



leitura coletiva, onde cada aluno lê um trecho. Nesse momento será verificada a compreensão



que os alunos já possuem sobre as formas gráficas.



- Localização e/ou cópia de informações



3) Quem é o narrador da história?



4) Quais os personagens da história? Apresente suas características.



5) Onde se passa a história?



6) Qual é o início da história?



7) E quando tudo parece mudar, ou seja, quando ocorre o conflito narrativo?



8) Quais são os acontecimentos que dão continuidade à narrativa?



9) Quando acontece o clímax, momento de maior emoção no texto?



10)E o final, como é?



11)Qual é o tema, assunto principal do texto?



12)No texto lemos um trecho que diz: “Lutar para ganhar a guerra ou lutar para não perder seu



amor?”. Encontre este trecho no texto e reflita: qual foi o motivo que levou o soldado a



pensar assim?



13)Por que o rapaz resolveu colocar apelidos nele e na sua amada?



14)A partir das questões 7, 8, 9 e 10, preencha o quadro organizativo com a sequência da



narrativa:



Situação inicial



Complicação



Acontecimentos



Desfecho



Aqui nesta etapa de encontrar informações, vocês poderiam perguntar:



Por que o pai na queria que sua filha se casasse com o rapaz, mas sim com o primo?



Por que o índio vai ao encontro de Coco Verde? Qual o seu objetivo?



Produção de inferências globais



Aqui é importante voes elaborarem questões que levem os alunos a fazerem inferências



acerca de informaçõs que não estão explícitas no texto. Por exemplo:



a) A qual região pertence esta história, tendo em vista que está inserida no livro Cultura da



terra? Por quê? Como vocês conseguem perceber isto?



b) Por que o moço “Era o remédio que a moça mais precisava” (p. 32)?



- Recuperação do contexto de produção



15)Onde o texto foi publicado?



16)Saber que o texto está inserido no livro Cultura da terra ajuda a compreender a história e



alguns elementos descritos no texto? Explique.



17)Quem é o autor?



18)Para quem foi escrito?



- Comparação de informações



Professor, agora os alunos lerão dois poemas de Sérgio Capparelli, “Bem-me-quer” e



“Cavalo a galope” para comparar o tema central. Aproveite para falar sobre a diferença que há



na estrutura desses dois textos e no texto “Melancia e Coco Verde”.






19)Leia os textos (Bem-me-quer e Cavalo a galope de Sérgio Capparelli)



14.1) Qual o tema principal do 1º? O que levou você a pensar nisso?



14.2) Qual o tema principal do 2°? O que levou você a pensar nisso?



14.3) Qual a diferença na estrutura entre esses dois textos e o texto “Melancia e Coco



Verde”?



14.4) De que maneira o primeiro texto lembra algum fato relatado ou personagem do texto



Melancia e Coco Verde?



14.5) De que maneira o segundo texto lembra algum fato relatado ou personagem do texto



Melancia e Coco Verde?



- Produção de inferências globais e intertextualidade



Professor, no momento da leitura das tirinhas, não se esqueça de ressaltar sobre linguagem



verbal e não verbal. Alguns textos são compostos apenas pela linguagem verbal, outros usam



apenas a linguagem não verbal e outro grupo de texto usa as duas linguagens como é o caso das



tirinhas analisadas.



20)Agora analisaremos duas tirinhas. (Mafalda e Menino Maluquinho)



15.1) Do que se trata a primeira tirinha? (interpretação oral) E a segunda? (interpretação



oral)



15.2) O que cada uma das tirinhas tem  a ver com a história contada no texto “Melancia e



Coco Verde”?



15.3) A primeira tirinha teve o mesmo final das personagens do texto “Melancia e Coco



Verde”? Por quê?



15.3) E na segunda tirinha, o que levou o Menino Maluquinho a ter essa atitude?











- Valores éticos e políticos.



Professor, talvez os alunos se lembrem de casos ocorridos com pessoas de seu conhecimento



ou convívio, ou ainda, poderão se lembrar de histórias fictícias como  as novelas ou filmes a



respeito de amores proibidos, mentira, confiança, traição, amizade, amor. Ouça tudo o que eles



tiverem para falar sobre o assunto.



21) Há algum fato que você tenha conhecimento que lembre a história do texto “Melancia e



Coco Verde”? Qual? (talvez os alunos façam relação entre o texto e as novelas do



momento)



22)Discuta com os colegas: o que o pai fez?; Vocês concordam? Discordam? E a moça, o que



fez? Teça comentários acerca do momento em que ela fala a todos que é do Coco Verde



de quem ela gosta e com ele que irá se casar. Enfim, reflitam sobre as atitudes do pai da



moça e as atitudes da moça. [B6] Comentário: Outra sugestão:

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